quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Violinista que tocou ‘Titanic’ já tinha se apresentado para Cabral e Adriana

Pedro Zuazo, jornal Extra / Globo
Em novembro de 2009, quando a cantora Madonna visitou o Morro Dona Marta, o violinista Rodrigo Silva estava na primeira fila da orquestra que se apresentou à estrela pop, acompanhada do então governador, Sérgio Cabral, e sua mulher, Adriana Ancelmo. Mal sabia aquele jovem músico que, sete anos depois, iria se preparar para tocar novamente para a ex-primeira-dama, mas dessa vez por ocasião de sua prisão.

Rodrigo, hoje com 26 anos, e Thyago Ribeiro, de 18, roubaram a cena, na tarde de terça-feira, ao executar no violino o hino nacional e a música do filme “Titanic” em frente ao prédio de Cabral e sua mulher, no Leblon, enquanto a Polícia Federal fazia buscas no local.

Os jovens, que aprenderam a tocar o instrumento em projetos sociais, se conheceram há dois anos, na Orquestra Sinfônica Jovem do Rio, patrocinada pelo estado. Desde então, fazem apresentações pela cidade. Mas foi por acaso que, na terça-feira, protagonizaram um protesto de forma incomum.

A dupla tinha acabado de se apresentar em frente a um supermercado na Barra e seguia para outra apresentação em uma padaria no Leblon. Ao descer do ônibus, eles viram uma aglomeração de pessoas e se aproximaram. Só então descobriram que era uma manifestação em prol da prisão de Adriana Ancelmo.

— Uma moça viu os instrumentos e sugeriu que a gente tocasse. A gente ficou receoso, por causa da polícia, mas as pessoas insistiram e começaram a gritar, em coro: “Toca, toca”. Um olhou para o outro e então resolvemos tocar — conta Rodrigo, que avalia: — Eu fiquei orgulhoso quando toquei para eles, lá atrás. Mas agora é diferente. Se erraram, têm que pagar.

Apesar de a ex-primeira dama não ter sido encontrada no apartamento — ela se entregou mais tarde, no mesmo dia —, a dupla foi ovacionada. Os aplausos foram tão calorosos, que os jovens decidiram passar o chapéu. Eles se divertiram ao ouvir alguém dizer, antes de jogar uma nota: “esse dinheiro aqui é honesto, hein!”. A arrecadação não foi das melhores — cerca de R$ 40 — mas a sensação de desabafo compensou.

— Muitas vezes a justiça falha. Quando funciona, é preciso celebrar. Executar o hino foi uma forma de dizer isso através da arte — diz Thyago Ribeiro.

Sonhadores Rodrigo nasceu no Dona Marta e viveu lá até 2013, quando se mudou para a Vila Cruzeiro, na Penha. Perdeu o pai aos 5 anos e foi criado pela mãe, que trabalhou em casas de família para sustentar sozinha os quatro filhos. Rodrigo chegou a conciliar os estudos com um trabalho em um mercado para engrossar a renda da família.

Teve o primeiro contato com a música aos 16 anos, com o projeto Ação Social pela Música no Brasil, patrocinado pelo governo do estado, que se instalou na comunidade de Botafogo. Pelo bom desempenho, foi selecionado para participar da Orquestra Sinfônica Jovem do Rio, com a qual se apresentou para Madonna, Cabral e Adriana.

O jovem, que largou os estudos no 1º ano do ensino médio para se dedicar à musica, pretende agora voltar às salas de aula.

— Meu grande sonho é viver da música — diz, sem hesitação.

Thyago é nascido e criado em Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Filho único de um rodoviário e uma dona de cabeleireiro, ele teve seu primeiro contato com a música aos 7 anos.

— Aos 7 anos, vi uma orquestra na igreja Congregação Cristã no Brasil. Na mesma hora quis participar. Entrei para a orquestra da igreja e fiz o curso básico. Mas queria mais. Queria seguir carreira profissional. Depois de lá, ingressei no curso da Faetec e, em seguida fui para o projeto Som Mais Eu, na Central — conta.

O jovem também teve uma passagem pelo projeto Ação Social pela Música no Brasil, e foi igualmente selecionado para a Orquestra Sinfônica Jovem do Rio. Lá, conheceu Rodrigo, com quem se uniu para, junto com outros amigos, formar um grupo de violinistas que tocam em eventos da cidade.

Agora, Thyago se prepara para um novo desafio: no sábado ele presta vestibular para Música na UFRJ.

— Estou firme no meu sonho de seguir carreira profissional — diz.


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